O ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma demonstração de força, neste domingo (25), ao mobilizar uma grande multidão em um ato em São Paulo, no qual criticou sua inabilitação política e pediu anistia para seus apoiadores presos após os ataques às sedes dos Três Poderes em 2023.
Bolsonaro havia convocado seus simpatizantes pelas redes sociais para uma manifestação na capital paulista, em meio às suspeitas de participação em um plano de golpe de Estado após perder as eleições de outubro de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva.
Vestindo uma camiseta da seleção brasileira, o ex-presidente se dirigiu a uma maré de apoiadores, que ocuparam mais de seis quarteirões da Avenida Paulista.
"Nós não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser por um motivo extremamente justo. Não podemos pensar nas eleições afastando os opositores do cenário político", afirmou Bolsonaro, que em 2023 foi declarado inelegível por oito anos por abuso de poder.
O ex-presidente pediu, ainda, a seus aliados no Congresso, onde tem maioria, "uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília", em alusão aos apoiadores presos pela invasão e vandalização das sedes dos Três Poderes na capital federal em 8 de janeiro de 2023, contra a posse de Lula, ocorrida uma semana antes.
Em seu discurso, Bolsonaro voltou a se dizer perseguido, especialmente desde que seu mandato terminou, em 2022, e voltou a negar qualquer envolvimento em um plano golpista.
"O que é golpe? É tanque na rua, é arma, é conspiração. Nada disso foi feito no Brasil", afirmou.
A Polícia Federal lançou em 8 de fevereiro a operação Tempus Veritatis (Hora da Verdade, em latim) contra Bolsonaro e vários de seus aliados, inclusive alguns de seus ex-ministros. Houve apreensões, detenções e o ex-presidente foi impedido de sair do país.
Os investigadores acreditam que os suspeitos planejavam desacreditar as urnas eletrônicas antes das eleições, e depois prepararam um golpe de Estado - não concretizado - contra o novo governo.
Interrogado a respeito na quinta-feira pela PF, Bolsonaro ficou em silêncio.
"Bolsonaro é uma pessoa honesta, com certeza é vítima de uma perseguição. É importante apoiá-lo porque ele representa Deus, pátria e família", disse à AFP Wilson Aseka, um construtor de 63 anos, que viajou cerca de 700 km de Minas Gerais a São Paulo para participar do ato.
Bolsonaro se mantém como líder da oposição, segundo as pesquisas, embora tenha sido inabilitado a participar de eleições até 2030, precisamente por criticar as urnas eletrônicas sem apresentar provas.
Aliados marcaram presença
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado, disse em seu discurso que o ex-presidente "representa um movimento" daqueles que lutam "pela família, pela pátria e pela liberdade".
O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), também participou da manifestação.
O influente pastor evangélico Silas Malafaia criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, à frente das investigações sobre Bolsonaro.
"Se eles te prenderem, você vai sair de lá exaltado (…) Jair Messias Bolsonaro é o maior perseguido político da nossa história", exclamou.
Desde que deixou o poder, Bolsonaro enfrenta uma série de investigações. No ano passado, ele se apresentou às autoridades por suspeitas de ter incentivado a invasão das sedes dos Três Poderes na capital federal.
Verde e amarelo
A maioria dos manifestantes na Avenida Paulista atendeu ao apelo do ex-presidente, que pediu que usassem as cores da bandeira do Brasil. Além disso, pediu que seus apoiadores não levassem cartazes ou faixas com críticas.
Giovanna Bruneta, uma advogada de 36 anos, vestia uma camisa amarela da seleção. "O Brasil está com ele. Não estamos preocupados com o resto, estamos preocupados de que ele nos represente novamente. Conseguimos uma vez e a gente acredita que vamos conseguir de novo", disse, com o filho nos braços.
Bolsonaro também pediu que não houvesse manifestação em outras cidades do país, o que trouxe apoiadores de outros Estados a São Paulo.
Bandeiras de Israel
Após as polêmicas declarações de Lula, que comparou a campanha militar israelense em Gaza ao Holocausto, Bolsonaro e seus apoiadores demonstraram apoio a Israel.
O ex-presidente segurou uma bandeira israelense no palco montado sobre um caminhão.
"O povo brasileiro não concorda com o que Lula falou sobre Israel", disse à AFP Edivan Batista Borges, vendedor de seguros de 43 anos, com uma bandeira israelense nas costas.