Agências de checagem de fatos acusam o governo Lula (PT) de "apropriação indevida" e "politização do combate à desinformação" pelo lançamento no último sábado (25) do site BrasilContraFake, supostamente de checagem de fatos, pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência.
No domingo (26), Lula denominou a iniciativa como uma "plataforma de checagem de informações e combate à desinformação".
"O Brasil sofreu muito com mentiras nas redes sociais nos últimos anos. Precisamos fortalecer uma rede da verdade. O governo (@govbr) lançou nesta semana uma plataforma de checagem de informações e combate à desinformação."
A declaração não foi bem recebida pelos “checadores de fatos” da imprensa tradicional. Para eles, não é papel do governo checar fatos. Ao jornal Folha de São Paulo, eles também alegam que o processo precisa ser independente.
Eles também acusam o site de não seguir s princípios básicos da checagem, como indicar de onde foram retiradas as informações usadas nas checagens e qual é a metodologia usada para determinar a veracidade, além de ter transparência no processo de escolha do conteúdo que será verificado.
"Temos reservas a essa iniciativa. Não sabemos se essa plataforma adotará os critérios da IFCN [International Fact-Checking Network], que baliza o trabalho das agências de checagem em todo o mundo", diz Alexandre Gimenez, responsável pelo UOL Confere.
E acrescentou: "Também existe uma questão ética envolvida, já que parte do trabalho de uma agência de checagem é verificar informações divulgadas pelo próprio governo."
Responsável por perseguir diversos perfil conservadores, a Agência Lupa afirma que alguns conteúdos "verificados" são, na realidade, notas de "esclarecimento" do governo.
Em publicação sobre o aumento do desmatamento em fevereiro, afirma a Lupa, o governo confirma que os dados são verdadeiros (sem apresentar nenhum link para as bases de dados relevantes sobre o tema), mas diz que "políticas públicas ambientais são marcadas pela efetividade a médio e longo prazo, e não imediata".
"Ou seja, a nota apenas tenta eximir o governo de responsabilidade pelos resultados atuais", diz a agência.
O Estadão Verifica, plataforma de checagem do jornal O Estado de São Paulo, também reclamou da iniciativa.
"Isso não é checagem de fatos, é assessoria de comunicação do governo", diz Daniel Bramatti, editor do Estadão Verifica. "
O governo tem o direito de esclarecer informações erradas sobre políticas públicas, mas isso não é checagem, não queremos uma Fakebras, uma visão estatal sobre o que é fato e o que não é."
Além disso, o BrasilContraFake também apresenta conteúdos baseados em verificações dos sites de checagem Fato ou Fake, Aos Fatos e Lupa, com referência e link direto. Mas alguns deles nem sequer foram consultados.
"Trata-se de uma apropriação indevida do conceito de checagem de fatos e do conteúdo de checadores", diz Natália Leal, diretora-executiva da Agência Lupa, cujas checagens foram citadas sem autorização.
Ela também diz que o site do governo vai criar uma confusão sobre o que é a verificação de fatos, além de enfraquecer os checadores de verdade.
"É contraditório para um governo que tem tratado o combate à desinformação como prioridade fazer essa politização do combate à desinformação", afirmou Leal.
À Folha, o ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, afirmou que intenção da plataforma nunca foi ser uma agência de checagem de fatos nem concorrer com os checadores.
"Estamos apenas reunindo esclarecimentos de informações falsas sobre diversos ministérios e medidas do governo. Não fazemos checagem, até porque somos governo, não somos isentos", disse.
Fonte: Brasil Sem Medo