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O país latino-americano que não comemora o Natal

Uruguai retirou a data do calendário oficial e o substituiu pelo Dia da Família.
Foto: andresr/iStock

Redação PIXTV (Site)

26 de dezembro de 2024

atualizado às 11:21

As listas de países que não reconhecem ou até proíbem a celebração do Natal geralmente incluem regimes autoritários ou nações com religiões oficiais diferentes do catolicismo. No entanto, o Uruguai, há mais de 100 anos e em plena democracia, retirou o Natal do calendário oficial e o substituiu por uma festa que, curiosamente, hoje pode ser mais representativa para milhões ao redor do mundo: o Dia da Família.

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Desde 1919, a legislação uruguaia não reconhece o feriado de Natal, nem o Dia de Reis, a Semana Santa ou o Dia da Virgem. Essas datas ainda são celebradas, e com grande entusiasmo, mas no calendário oficial elas têm outras denominações: o Natal é o Dia da Família, o Dia de Reis é o Dia das Crianças, a Semana Santa é a Semana do Turismo e o Dia da Virgem é o Dia das Praias.

A secularização dos feriados religiosos é apenas uma das diversas ações que o país adotou entre o final do século XIX e o início do século XX para separar completamente o Estado da Igreja Católica. Esse processo é tão único na região que se tornou um caso de estudo para acadêmicos.

Dos cemitérios ao Natal: como o Uruguai se livrou dos símbolos religiosos

O primeiro marco significativo desse processo de secularização no Uruguai ocorreu já em 1861, apenas cerca de 30 anos após a aprovação da primeira Constituição do país. Nesse ano, os cemitérios, que antes estavam sob o controle da Igreja, passaram a ser administrados pelo Estado. A partir de então, e até a aprovação da Constituição de 1917, que separou formalmente a Igreja do Estado e garantiu a liberdade de culto, a Igreja Católica foi gradualmente perdendo poder tanto real quanto simbólico.

Em 1885, por exemplo, foi estabelecido que o casamento civil deveria ocorrer antes do casamento religioso. Alguns anos depois, em 1907, foi aprovada a lei do divórcio, e também foram suprimidas as referências a Deus e aos evangelhos no juramento dos parlamentares. Um ano antes, em 1906, o governo já havia decidido remover todos os crucifixos dos hospitais públicos.

Essas mudanças refletem uma tendência mais ampla de separação entre a Igreja e o Estado, que se intensificou ao longo das décadas, transformando o Uruguai em um dos países mais laicos da América Latina.

Uma das decisões mais significativas no processo de secularização do Uruguai ocorreu em 1909, quando foi suprimido o ensino de religião nas escolas públicas. José Pedro Varela, um dos principais defensores da educação laica, gratuita e obrigatória no país, resumiu com estas palavras o espírito que guiava as decisões dos políticos da época: “Não professemos nenhum culto, mas tenhamos a religião do futuro, com o olhar fixo na estrela da justiça, que nos ilumina; marchemos incessantemente preparando o estabelecimento da democracia, na qual o povo, convertido em sacerdote e em rei, terá por guia e por Deus a liberdade.”

No entanto, o processo de secularização não foi uniforme. De acordo com acadêmicos como Roger Gaymonat, as primeiras decisões não tinham necessariamente a intenção de laicizar o país. No entanto, a partir de 1885, desencadeou-se uma “tempestade anticlerical” e, nos primeiros anos do século XX, sob a liderança de José Batlle y Ordóñez, começou uma ofensiva que moldaria o Uruguai moderno. Batlle y Ordóñez governou em dois períodos: de 1903 a 1907 e de 1911 a 1915. Sua influência foi crucial para avançar na separação entre a Igreja e o Estado, tornando-se um protagonista chave na história política e social do país.

Os uruguaios acreditam?

Um estudo do Pew Research Center de 2014, que ainda é utilizado como referência em estudos acadêmicos, colocava o Uruguai no topo dos países latino-americanos com mais pessoas sem filiação religiosa: 37% no total, divididos entre aqueles que não têm uma religião específica (24%), os ateus (10%) e os que se definem como agnósticos (3%).

O Pew qualifica o Uruguai como um caso “atípico”. “Em nenhum outro país da América Latina pesquisado, as pessoas sem filiação religiosa chegam sequer a 20% da população”, afirma. Para contextualizar, nos países vizinhos, esses percentuais são de 11% na Argentina e 8% no Brasil. No outro extremo da lista regional está o Paraguai, onde apenas 1% se encaixa nessas categorias.

Quanto à filiação religiosa daqueles que se declaram como parte de uma religião, o estudo do Pew registra 42% de católicos, 15% de protestantes e 6% pertencentes a “outras” religiões.

As decorações natalinas e o panetone permanecem

Que o Natal tenha sido removido da lei não significa que não seja celebrado: nas ruas das cidades uruguaias, como em muitas ao redor do mundo, multiplicam-se as árvores de Natal e as luzes coloridas, embora, nos espaços públicos, geralmente não sejam acompanhadas de presépios, como em outros países mais ligados ao catolicismo.

Trata-se de uma data de celebração, principalmente entre família e amigos, e em que os cristãos praticantes também participam das celebrações nas igrejas.

Visto em retrospectiva, 103 anos depois, é possível que a substituição do Natal pelo Dia da Família (mesmo que apenas nos calendários) tenha mais a ver com o espírito da celebração atual do que os próprios responsáveis por essa decisão poderiam imaginar na época.

Fonte: CNN Brasil

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