A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, por meio da 2ª Delegacia de Polícia de Sapucaia do Sul, deflagrou na manhã desta quarta-feira (10) a Operação Rapta, que esclareceu um homicídio qualificado com sequestro ocorrido em fevereiro deste ano. A ação cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão nos municípios de Canoas, Porto Alegre, Viamão, Charqueadas e Osório.
Ao todo, cinco pessoas foram presas ao longo da investigação. Duas delas tiveram a prisão temporária decretada nesta fase da operação; outras três já estavam detidas por envolvimento em outros crimes.
Emboscada fatal
A vítima é um jovem de 20 anos, sem antecedentes criminais, que foi sequestrado em Canoas e executado com mais de 20 disparos de arma de fogo horas depois, na madrugada de 25 de fevereiro de 2025, na Rua São Miguel, em Sapucaia do Sul. O corpo apresentava sinais de espancamento e múltiplas perfurações, indicando um assassinato com extrema violência.
O local do crime, próximo à RS-118, não tinha câmeras de monitoramento, o que dificultou os trabalhos iniciais. No entanto, ainda na madrugada, a equipe da 2ª DP ligou o caso a um registro de sequestro feito horas antes. A confirmação veio por meio de tatuagens e vestimentas da vítima.
Conexões perigosas
Descrito como uma pessoa sem envolvimento direto com o crime, o jovem mantinha amizades com indivíduos ligados a facções rivais que atuam na região metropolitana. Além disso, ostentava nas redes sociais símbolos associados à vida do crime, como dinheiro e apelidos com referência ao tráfico, ainda que sem ligação real com atividades ilícitas.
A investigação identificou que a vítima também frequentava festas com membros de diferentes facções e se envolvia com mulheres ligadas a grupos rivais, o que aumentou sua exposição e foi interpretado como um “posicionamento” dentro da guerra entre organizações criminosas. Uma dessas mulheres teria sido usada como “isca” para atraí-lo ao local do sequestro.
Detalhes da investigação
As diligências da Polícia Civil incluíram análise de dados telemáticos, redes sociais, imagens de câmeras de segurança e cruzamento de informações de denúncias anônimas. A partir disso, os agentes localizaram um Fiat Argo prata com placas clonadas usado no transporte da vítima. O carro foi encontrado em um condomínio em Canoas, área de atuação de uma facção criminosa, e apresentava respingos de sangue no porta-malas e outros vestígios.
O avanço da apuração ocorreu com a prisão de uma mulher em Cachoeirinha, em maio, que confessou ter participado da emboscada e detalhou o envolvimento de outros suspeitos. Ela alegou ter sido coagida por um ex-namorado — membro da facção local — a atrair a vítima. A mulher teve a prisão temporária convertida em preventiva em 30 de maio.
Com base nos depoimentos e nas imagens de monitoramento do condomínio, a Polícia identificou outros integrantes do grupo, incluindo um homem monitorado por tornozeleira eletrônica, com diversos antecedentes por crimes como roubo, furto e adulteração de veículo.
Motivação: ciúmes e guerra entre facções
A investigação apontou que o crime teve motivação mista:
- Ciúmes do ex-namorado da mulher usada como isca;
- Rivalidade entre facções criminosas, que enxergavam a vítima como possível informante ou integrante de grupo rival, mesmo sem provas.
A ostentação da vítima nas redes sociais e sua proximidade com pessoas ligadas a diferentes facções contribuíram para que fosse visto como uma ameaça. "O crime foi um ato de extrema crueldade e premeditação, refletindo a dinâmica violenta das guerras entre grupos criminosos na região", informou a corporação.