A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão recomendando para cultivo no Estado as variedades de uvas viníferas Felícia e Calardis Blanc. As duas são uvas Piwi, o que significa que viabilizam a produção de vinhos finos com mais sustentabilidade ambiental e econômica.
O termo Piwi é derivado da palavra alemã “pilzwiderstandsfähigen”, que significa resistente a doenças fúngicas. Trata-se de um grupo de variedades de uvas obtidas nos últimos anos via melhoramento genético, oriundas de cruzamentos de variedades viníferas com espécies selvagens. O objetivo é reunir numa só planta a qualidade das viníferas e a resistência à doença das selvagens, permitindo a produção de vinhos finos com menos custos e impactos ambientais reduzidos.
As variedades Felícia e Calardis Blanc foram desenvolvidas na Alemanha pelo Instituto Julius Kühn, que é parceiro da Epagri. André Luiz Kulkamp de Souza, pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Videira e coordenador do projeto, explica que durante oito anos elas foram testadas para cultivo em cinco regiões do Estado: Água Doce, São Joaquim, Curitibanos, Videira e Urussanga. “As duas mostraram boa adaptação aos diferentes climas catarinenses”, destaca.
Felícia
André relata que a uva Felícia combina genes de resistência ao míldio e ao oídio e apresentou redução de mais 60% em tratamentos fitossanitários quando comparada com variedades viníferas tradicionais. Ela se destaca pela produtividade muito alta, produzindo uma média de 18 toneladas por hectare em espaldeira, índice que pode aumentar ainda mais, dependendo do sistema de condução adotado.
Apresenta ainda alta fertilidade de cacho, produzindo, em média, mais do que dois cachos por ramo, o que é bem acima da maioria das variedades. Tanto as bagas quanto os cachos são grandes, com peso médio de 200g por cacho, o que pode demandar raleio.
Também apresenta superprecocidade, o que pode ser uma vantagem para alguns locais, mas deve ser evitada em locais sujeitos a geadas tardias. “Em Videira é colhida em meados de janeiro, com brotação no final de agosto e início de setembro”, detalha o pesquisador.
É recomendada para elaboração de vinhos tranquilos e espumantes de consumo jovem. O aroma é delicado, floral e frutado, com destaque para frutas brancas (banana e maçã verde). É um vinho leve ao paladar, de acidez harmoniosa e bastante fresco.
Calardis Blanc
A Calardis Blanc também apresentou redução de mais de 60% de tratamentos fitossanitários em relação às variedades tradicionais de Vitis vinifera. Combina genes de resistência ao míldio, ao oídio e ao black rot.
Tem alta produtividade, produzindo pelo menos 15 toneladas por hectare em cada safra, podendo chegar a 20 toneladas, mas se mantendo na média de 16 a 17 toneladas por hectare quando conduzidas em espaldeira. É uma variedade muito fétil, produzindo em média 2,5 cachos por ramo. Seus cachos são de tamanho médio, com cerca de 130 gramas cada. Pode demandar raleio.
Segundo André, a Calardis Blanc tem grande potencial para produção de espumante. Apresenta tonalidade amarelo-esverdeada. Ao olfato tem complexidade média, com aromas de frutas brancas (pêssego e maçã), frutas cítricas (limão e laranja) e frutas tropicais (lichia), além de aroma floral, certa mineralidade e notas herbáceas. No paladar apresenta corpo leve, acidez fresca, persistência média e um retrogosto agradável.
Viveiros selecionados
Foram selecionados dois viveiros que estão comercializando mudas das duas variedades recomendadas. O Videiras Viecelli, no município de Videira, e o EB Viveiros, em Urussanga.
Após a recomendação das duas primeiras variedades, Epagri e UFSC seguem com o projeto de avaliação das uvas Piwi. O estudo é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária é parceira da pesquisa, por meio do Fundo de Desenvolvimento Rural.
Fonte: Epagri