A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, por meio da 2ª Delegacia de Polícia Distrital de Porto Alegre, prendeu nesta quinta-feira (15), em Dourados (MS), o principal investigado da Operação Malus Doctor. O homem, que é advogado, estava foragido desde o dia 8 de maio de 2025, quando a operação foi deflagrada. Ele foi identificado como Daniel Fernando Nardon, conforme reportagem do Zero Hora.
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Informações preliminares indicavam que o investigado se encontrava em São Paulo no dia da operação. A partir de diligências, a polícia rastreou sua movimentação pelo litoral paulista e, posteriormente, para o estado do Mato Grosso, onde tem familiares.
Com base nos dados levantados, uma equipe da 2ª DP de Porto Alegre seguiu até o Mato Grosso. Com apoio da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Barra do Garças (MT), constatou-se que o suspeito havia seguido viagem rumo ao Mato Grosso do Sul. Ele foi localizado e preso em Dourados (MS) com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), quando se deslocava para Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai.
A Operação Malus Doctor
Deflagrada no último dia 8, a Operação Malus Doctor visa desarticular um grupo criminoso envolvido em fraudes processuais contra instituições financeiras em diversas regiões do país. Foram cumpridas 74 ordens judiciais, incluindo 35 mandados de busca e apreensão, nove suspensões do exercício da advocacia, quebras de sigilo bancário e fiscal e outras medidas cautelares. Também foi determinado o bloqueio de até R$ 50 milhões em bens, imóveis e ativos financeiros. Os mandados foram executados em Porto Alegre, Glorinha e Xangri-Lá.
Um esquema de fraudes em massa
A investigação revelou a existência de um esquema de ajuizamento de mais de 145 mil ações judiciais supostamente fraudulentas — sendo 112 mil no Rio Grande do Sul e 30 mil em São Paulo. O principal investigado responde por cerca de 47% dessas ações no RS, sendo considerado o quinto maior litigante do estado.
O golpe consistia no uso de procurações falsas, sem conhecimento dos supostos clientes, para ajuizar milhares de ações revisionais contra bancos. Os investigados ofereciam serviços de revisão de empréstimos consignados, cobrando 30% dos valores “recuperados”.
Após captarem dados das vítimas, os criminosos contratavam novos empréstimos em nome delas. Os valores, depositados nas contas das vítimas, eram confundidos com restituições judiciais. Parte era repassada aos golpistas, até que os beneficiários notavam os descontos indevidos em seus benefícios e percebiam o golpe.
Além disso, os envolvidos utilizavam a técnica do “fatiamento de demandas” — ao dividir contratos em múltiplas ações e distribuir os processos entre diferentes advogados e comarcas, dificultando a detecção do esquema.
Vítimas e irregularidades
Uma das vítimas afirmou desconhecer mais de 30 ações movidas em seu nome. Em outro caso, ações foram ajuizadas em nome de pessoas já falecidas, utilizando procurações com datas posteriores ao óbito.
Os crimes investigados
Ao todo, 14 pessoas são investigadas e poderão responder por crimes como estelionato, falsidade ideológica, falsificação de documento particular, uso de documento falso, fraude processual, patrocínio infiel, apropriação indébita e associação criminosa.