A Polícia Civil deflagrou na manhã desta terça-feira (18) a Operação Porta Fechada, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa envolvida no tráfico de drogas e em diversos outros crimes. Até o momento, 32 pessoas foram presas, e as equipes apreenderam 12 armas, 26 quilos de maconha, um quilo de cocaína, munições, dinheiro e veículos.
As investigações começaram em julho de 2024, após a apreensão de 400 quilos de maconha em Sapucaia do Sul (RS). A partir dessa ocorrência, a Polícia Civil descobriu uma rede criminosa altamente estruturada, que atuava em 21 municípios nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso.
Segundo a corporação, os alvos são investigados por diversos crimes, como associação para o tráfico, agiotagem, organização criminosa, adulteração de sinal identificador de veículos e outros delitos relacionados.
Foram cumpridos 41 mandados de prisão e 45 de busca e apreensão, além da apreensão de dois veículos. Mais de 200 policiais civis participaram da operação, coordenada pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (DENARC) e pelo Departamento de Polícia do Interior, com apoio de outras unidades especializadas.
Operação Porta Fechada
A Operação Porta Fechada foi planejada para desarticular a estrutura financeira e operacional de uma das maiores organizações criminosas do Sul do Brasil, que atuava em diversas cidades do Rio Grande do Sul e se expandia para outros estados. A investigação revelou que o grupo movimentava grandes quantidades de drogas e administrava um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro.
Uma das maiores apreensões ocorreu em uma rodovia federal, quando a Polícia Rodoviária Federal (PRF) interceptou uma carga de cinco toneladas de maconha, avaliada em mais de R$ 10 milhões—a maior apreensão do ano de 2024. Esse volume de entorpecentes era apenas uma parte da logística de transporte da organização, que distribuía drogas em larga escala.
Mesmo com seus principais líderes presos, a quadrilha mantinha um rígido controle operacional. De dentro dos presídios, chefes do crime davam ordens a comparsas em liberdade, coordenando o tráfico e garantindo a continuidade dos negócios ilícitos. A investigação também revelou o envolvimento de uma grande empresa do setor alimentício, fornecedora de produtos para cantinas prisionais, que operava como um canal para lavagem de dinheiro e ocultação de recursos ilícitos.

Esquema de fraudes e lavagem de dinheiro
As autoridades identificaram que parte significativa do dinheiro obtido pelo grupo estava sendo lavado por meio de transações fraudulentas ligadas à Superintendência de Serviços Penitenciários do Estado (Susepe). Utilizando celulares dentro das penitenciárias, os detentos aplicavam golpes financeiros e extorsões, transferindo os valores para contas bancárias da empresa envolvida no esquema. O dinheiro, disfarçado como pagamento por produtos fornecidos às cantinas prisionais, era reinserido no mercado com aparência legal.
Esse esquema evidenciou o alto nível de sofisticação da rede criminosa, que não apenas dominava o tráfico de drogas, mas também manipulava contratos legais para esconder seus lucros. A infiltração em empresas legalmente estabelecidas fornecia ao grupo uma fachada de credibilidade, dificultando a detecção das movimentações ilícitas pelas autoridades financeiras.
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) reforçaram as suspeitas. A empresa envolvida apareceu em dois Relatórios de Inteligência Financeira, registrando transações suspeitas que ultrapassaram R$ 32 milhões em menos de 10 meses—um volume de dinheiro incompatível com seu faturamento declarado.

Outro indício de fraude foi uma transação imobiliária atípica: um imóvel comprado por R$ 200 mil foi revendido no mesmo dia por R$ 890 mil, um lucro de mais de 300% em poucas horas. "Esse tipo de operação é um forte indício de lavagem de dinheiro, pois transações imobiliárias com lucros tão expressivos e rápidos são frequentemente utilizadas para ocultar a origem ilícita dos recursos", explicou a delegada Ana Flávia Leite.
A investigação continua para identificar todos os envolvidos e desmantelar completamente a rede criminosa, que usava mecanismos sofisticados para expandir seus negócios ilegais enquanto mantinha uma fachada de legalidade.